Sobre Fábio Queiroz - Mr Q
Meu nome é Fábio Queiroz, também conhecido como Mr Q.
Vou contar um pouco sobre a minha vida.
Nasci de uma gravidez indesejada. Minha mãe biológica engravidou muito jovem e escondeu a barriga durante os nove meses para que o avô não desconfiasse que ela estava grávida. Se ele desconfiasse, além de bater muito nela por ser uma pessoa agressiva, a expulsaria de casa.
Desta forma, quando nasci, ela me deixou na casa de uma da vizinha sem que seu avô tivesse conhecimento. Mas essa vizinha não podia ficar comigo, pois não tinha condições financeiras nem para sustentar a própria família direito, imaginem mais uma criança.
Ela cuidou de mim por aproximadamente 10 dias e depois solicitou para que minha mãe biológica desse um jeito de cuidar de mim. Como ela não tinha condições, saiu me oferecendo de porta em porta na vizinhança, mas todos diziam que não tinham condições. Todas aquelas pessoas viviam na maior pobreza. Eram famílias que vieram do nordeste e de diferentes partes do Brasil para tentar a vida em São Paulo. Moravam em barracos e em casas de tijolinho ao lado de um matagal. Como ninguém queria me criar, minha mãe biológica decidiu me jogar num brejo.
Uma das vizinhas (minha mãe de criação), ao perceber o que provavelmente iria acontecer, decidiu então ficar comigo, mesmo sem ter condições financeiras para isso. Depois disso, minha mãe biológica veio me visitar ainda criança uma vez, depois se mudou para o Sul e nunca mais se soube notícias dela.
Foi dessa forma que escapei da morte logo no início da minha vida: com muita sorte. Por outro lado, ganhei pais maravilhosos e duas irmãs que cuidaram muio bem de mim durante toda minha infância. Uma família praticamente toda analfabeta e muito pobre: pretos, sem vícios, cristãos, muito honestos e dedicados ao trabalho.
Minha mãe era faxineira e o meu pai trabalhava em uma empresa metalúrgica como ajudante geral. Meu pai, na época, era uma pessoa bastante rigorosa com todos, chegando às vezes até a ser agressivo. Várias vezes eu me escondia debaixo da cama, quando ele estava nervoso, para escapar da cinta dele. Minhas irmãs também apanharam muito e carregam marcas até hoje no corpo. Uma vez, tentando escapar para não apanhar, tropecei e bati minha cabeça na quina de um móvel. Abriu-se um buraco bem na minha sobrancelha direita e saiu muito sangue. Minha mãe correu para me levar em uma farmácia (naquela época, as farmácias eram os únicos locais onde conseguíamos algum atendimento de saúde). Levei alguns pontos e fiquei com a cicatriz até hoje na sobrancelha, apesar de muitas pessoas não a perceberem. Depois disso meu pai nunca mais me bateu.
Por outro lado, meu pai não bebia, não tinha nenhum vício, era um baiano muito severo, reservado e trabalhador. Os vizinhos sempre o achavam uma pessoa muito amável e prestativa.
Cresci sendo educado pelas minhas irmãs que tomavam conta de casa enquanto meus pais trabalhavam.
Minha mãe era faxineira na casa de uma senhora de classe média e mal tinha tempo para me dar atenção. Às vezes, ela deixava eu ir no trabalho com ela, quando não tinha ninguém para cuidar de mim. Era uma das poucas oportunidades que eu tinha de brincar com outras duas crianças e ficar em uma casa onde havia brinquedos e nada faltava. No pouco tempo livre que minha mãe tinha, ela era muito carinhosa comigo, sempre se preocupava em me trazer bolachas ou coisas gostosas para eu comer e eu sentia o quanto ela me amava. Devido à falta de dinheiro, cresci comendo bastante feijão com farinha. Acho que é por isso que adoro feijão até hoje.
Mesmo com dificuldades, meus pais sempre fizeram de tudo para que nós não ficássemos com fome. Eu nunca saía de dentro de casa, pois meu pai não queria que eu me misturasse com a molecada da rua. No futuro isso mostrou a sabedoria do meu pai, pois muitas crianças daquela época morreram ou viraram bandidos. Minha irmã sempre trazia revistas em quadrinhos para casa. Devido a isso, acabei me tornando um ávido leitor de revistas em quadrinhos e quase aprendi a ler antes de ir para a escola de tanto que eu folheava as revistas observando os desenhos e imaginando o que eles falavam dentro daqueles balões. Assim, comecei a desenvolver meu intelecto muito cedo. Aprendi também a ter um grande amigo para todas as horas: eu mesmo. Muitas vezes, eu passava a tarde inteira no quintal brincando sozinho, enquanto minhas irmãs saíam ou ficavam ocupadas com os afazeres domésticos. Eu tinha os cabelos longos até o ombro, e eram lisinhos. Todos achavam que eu ficava bonitinho com aquele tipo de cabelo. Acho que foi naquela época que comecei a cultivar minha vaidade. Apesar da minha timidez, adorava quando me davam atenção e me paparicavam. Antes de entrar na escola, cheguei a fazer pré-escolar. Lembro-me até hoje de usar shorts vermelho, conga, lancheira e a camiseta do uniforme. Lembro, um tanto que vagamente, que era uma perua bem velha que me levava e todos colecionavam tampinhas da Coca-Cola. Era guerra de tampinhas toda viagem, para infelicidade do motorista (o tio da perua).
O primeiro ano na escola foi um pouco difícil, pois peguei catapora e sarampo no mesmo ano. Isso me afastou dos estudos. Cheguei a desmaiar uma vez, pois eu também sofria de anemia. Mesmo assim consegui passar do primeiro ano para o segundo ano primário. Carreguei uma deficiência de caligrafia e por causa disso quase que a professora do segundo ano não me deixou passar para o terceiro. Conversou com minha mãe dizendo que era impossível ler o que eu escrevia e que eu teria que melhorar senão não poderia me passar. Eu consegui melhorar só um pouco a caligrafia. Como eu ia muito bem em todas matérias, ela teve que me passar de ano. Eu sempre adorava ir para escola. Adorava a interação com os amigos. Na época, eu tinha uma personalidade brincalhona (personalidade que se manteve até a sexta série, quando comecei a me tornar um tipo mais sério). Depois do terceiro ano, meu pai me levou para cortar o cabelo de forma diferente, aí meus cabelos ficaram curtinhos e eu passei a penteá-los de lado (mantive esse mesmo corte por um tempão, até quando os cabelos começaram a cair...).
Tive uma infância normal, mas bastante vigiada pelos meus pais. Lembro-me de ter alguns amiguinhos que vinham brincar comigo em casa. Um deles está casado nos dias atuais. Raramente nos encontramos. Gostávamos muito de jogar xadrez (ele já foi até campeão de Xadrez do Senai, uma instituição brasileira muito reconhecida em cursos técnicos profissionalizantes). Minhas melhores recordações são da época em que cursei a quinta e a sexta séries do primeiro grau. Sempre fui bom em Matemática e na maioria das outras matérias também me destacava bem. Adorava provas desafiadoras e o meu professor de matemática sempre trazia novos desafios para que eu pudesse testar minha facilidade com a matéria. Trazia um monte de exercícios diferentes e eu ficava finais de semana inteiros tentando resolvê-los. Por outro lado isto também me rendeu perseguições por parte de alguns colegas de classe que não tinham a mesma facilidade e se viam forçados a estudar mais por minha causa. Um desses meus colegas, na época era praticamente um marginal, mas hoje chegou até a se tornar um cantor de samba de renome nacional (até com programa de televisão próprio) e se elegeu vereador mais de uma vez.
Desde cedo sempre fui do tipo líder que gosta de inspirar as outras pessoas a realizar algo. Fui um dos idealizadores da realização da primeira formatura da escola, juntamente com o professor de história da época. Após formar-me no ginásio, por meio de um amigo, consegui meu primeiro emprego como ajudante de serviços gerais em uma fábrica de montagem de cadeados e fechaduras. Juntamente comigo, mais dois amigos também conseguiram entrar lá. Eu trabalhava das 7 horas até às 17 horas e, logo em seguida, ia para o colégio à noite. Pegava ônibus lotado logo de manhã cedinho e levava minha marmita para comer lá. Perdi a conta das vezes que a marmita azedava, ou das vezes que a porta do ônibus enganchava em minha bolsa e prensava minha marmita. Chegava no serviço com a roupa amassada por causa da lotação do ônibus. Foram onze meses de muito sofrimento, pois entrei na empresa achando que ia trabalhar operando máquinas automáticas, mas quando comecei a trabalhar lá, o encarregado me colocou para fazer um serviço braçal carregando peças pesadas de uma seção para outra.
Devido às péssimas condições de trabalho, e motivado por um incidente (quase perdi um dos meus dedos numa prensa), acabei desistindo de continuar a trabalhar naquela fábrica metalúrgica e pedi demissão para recomeçar em uma outra área.
Eu havia conseguido entrar em outra empresa para ganhar três vezes menos. Minha família sofreu com a falta do dinheiro que eu costumava dar para ajudar nas despesas, mas minha mãe me deu todo o apoio, pois tinha medo que algum acidente acontecesse comigo naquela fábrica. Naquela empresa eu trabalharia como office-boy e, portanto não correria o risco de perder os meus dedos. O serviço também seria mais leve. Eu gostei muito de trabalhar naquela nova empresa. Fiz várias amizades lá e me esforçava para corresponder às expectativas dos chefes e secretárias que solicitavam meu serviço. Eu entregava malotes e correspondências nos departamentos internos da empresa. Eu ia quase que a semana inteira com a mesma calça e tinha duas camisetas. Mas sempre ia bem arrumado, com a roupa bem limpa e bem passada. Essa conduta mais a simpatia que eu conquistei de muitas pessoas, rendeu-me a oportunidade de concorrer a uma vaga de Office-boy para trabalhar na matriz da empresa, que ficava próximo a Avenida Paulista. Concorri àquela vaga, mas não passei na entrevista. Por outro lado, o gerente que me entrevistou gostou tanto de mim que me indicou para outra vaga numa outra empresa do grupo (uma agência de viagens). Dessa forma fui transferido, efetivado (até aquele momento eu era temporário) e passei a trabalhar no mesmo prédio da matriz da empresa. Tudo aquilo era novo para mim, e eu me sentia muito feliz, pois tudo o que queria era uma chance para projetar-me na vida e crescer. No início, foi muito difícil para mim. Eu não conhecia nada de ruas e o trabalho era totalmente externo. Os colegas de trabalho me faziam de bobo e eu sempre realizava os piores serviços externos. Com o decorrer do tempo fui aprendendo todos os endereços e passei a realizar tudo muito mais rápido que os demais. Em pouco tempo eu me tornei o office-boy preferido de muitos na empresa, pois realizava o serviço sempre rápido. Aprendi também a ganhar dinheiro economizando o que recebia para tomar táxis (pois tomava ônibus e às vezes fazia os serviços a pé correndo, buscando todo o tipo de atalhos que me fizessem chegar aos destinos de forma mais rápida). Eu sempre fui muito curioso e sempre disposto a conhecer e aprender coisas novas. Naquela época eu tinha feito um curso gratuito de datilografia promovido pela associação de amigos de bairro onde eu morava nos finais de semana. Com essa facilidade em datilografar, sempre que eu tinha um tempo vago ajudava um rapaz do setor de telex a digitar algumas cartas. Os outros office-boys caçoavam e diziam que eu era um "puxa-saco" pois não parava de trabalhar um momento sequer. O resultado foi que, quando o rapaz do telex saiu de férias, eu acabei ficando no lugar dele e parei de fazer serviços externos, chegando até a pedir para os meus amigos office-boys realizassem certos serviços para mim. Muitos deles estavam na empresa havia dois ou três anos e não se conformavam em me ver numa posição mais privilegiada do que eles. Em seis meses eu já conseguia minha primeira promoção. Um ano depois eu fui novamente promovido. Eu estava terminando o colegial e queria cursar uma faculdade. Meu salário dava somente para eu ajudar em casa e me sustentar. Mesmo assim, decidi estudar com afinco e realizar alguns vestibulares no intuito de ter uma idéia de como seria, pois não acreditava que eu poderia fazer uma faculdade, mas tinha esperança em um dia conseguir.
Prestei os exames vestibulares em duas faculdades do curso de Administração de Empresas. Passei numa delas e fiquei muito contente, apesar de frustrado em saber que o valor da mensalidade daquela faculdade era quase três vezes o valor do meu salário. Quando meu chefe soube que eu havia passado no vestibular, comunicou o diretor da empresa. Coincidentemente o diretor da empresa havia estudado na mesma faculdade onde eu havia passado o vestibular. Ele tomou a iniciativa de solicitar que a presidência da empresa autorizasse uma bolsa de estudos para mim. Foi uma grande surpresa quando o meu chefe pediu que eu fizesse a matrícula na faculdade, pois a empresa ajudaria com 70% do valor! Conseguia então dar um grande passo na minha vida. Pagando 30% da mensalidade da faculdade, quase não sobrava nada para mim, pois meu salário era muito baixo. Com o decorrer do tempo eu galguei mais duas promoções dentro da empresa e consegui ter um pouquinho mais de dinheiro para gastar e ajudar meus pais em casa. A empresa também ofereceu roupas caríssimas como uniforme o que me ajudou muito, pois eu tinha poucas roupas para trabalhar e na faculdade a maioria dos alunos se vestia melhor que eu. Eu andava de ônibus todo chique e super com medo de ser assaltado por causa das roupas da empresa. Ao tornar-me campeão de vendas por seis meses consecutivos, fui premiado com uma moto zero kilômetro e com uma bolsa integral para estudar numa excelente escola de inglês aos sábados. Aproveitei os sábados e fiz também um curso de mecânica de motos.
De moto, eu conseguia ter uma qualidade de vida melhor. Chegava mais cedo em casa e sai um pouco mais tarde para ir trabalhar. Nesta mesma época, através de um colega de trabalho, encontrei com a filosofia de vida que me deu o suporte e me orientou na vida durante 20 anos: o Budismo.
Fui participar de uma reunião para acompanhar um amigo que estava com muitos problemas (de doença, dívidas e harmonia familiar). Meu amigo acreditou ter resolvido seus os problemas por meio da prática do budismo, mas parou de praticar depois de algum tempo. Eu continuei a participar das atividades, estudei muito a respeito, fiz amizades fantásticas e, encorajado pelos veteranos e pelos resultados que eu acreditava ter conseguido com a prática do budismo, me converti. Trabalhava, estudava e passei a me dedicar às atividades do Budismo aos finais de semana, e durante todas as minhas horas vagas. Antes do Budismo eu havia seguido a religião do meu pai (uma igreja cristã luterana) e uma igreja Adventista do Sétimo Dia por meio de uma vizinha. Mas nunca me identifiquei com aquele tipo de crença.
Nunca consegui acreditar na existência de um ser superior imaginário, ou de paraísos e infernos imaginários. Durante a infância eu já tinha lido muitos livros de contos e fábulas como as de La Fontaine, Hans Christian Andersen, Monteiro Lobato, Mark Twain entre muitos outros e de alguma forma eu percebia a Bíblia como um daqueles livros. Foi através do Budismo que encontrei várias respostas para as minhas indagações espirituais da época, pois o Budismo acredita numa Lei Universal, e não num deus personificado ou em um ser superior. No início foi difícil para meu pai aceitar a minha nova crença, mas com o decorrer do tempo percebeu que aquele seria a religião que eu seguiria, e parou de me criticar.
Devido à minha dedicação na empresa, fui premiado com uma moto zero quilômetro. Eu, pela primeira, vez tinha meu próprio meio de locomoção. Com a minha moto, eu conseguia ir para muitos lugares muito mais rápido. Eu estava numa fase excelente, usufruindo uma qualidade de vida que eu nunca tinha tido antes. Porém, eu sempre fui ambicioso, sempre desejando ter uma vida ainda melhor. Conheci uma pessoa que se tornou meu amigo, e, nos finais de semana, íamos juntos para muitas casas noturnas. Eu ajudava aquele meu amigo a organizar festas e eventos com artistas famosos. Entusiasmei-me com aquele tipo de negócio e decidi sair da empresa onde trabalhava para montar uma danceteria juntamente com aquele amigo. Foi uma decisão muito difícil, pois eu estaria arriscando toda minha estabilidade profissional para entrar em um negócio totalmente incerto. Mesmo contra a vontade dos colegas da empresa, da minha família, arrisquei tudo e saí da empresa após cinco anos de trabalho lá. Esse, talvez, tenha sido um grande erro.
Seis meses depois aquele suposto amigo me enganaria e me faria perder todo o meu dinheiro e todas as minhas economias. Fiquei com o nome sujo na praça, perdi todo meu crédito e reputação. Minha família me pressionava para ajudar nas despesas de casa. Meu pai até chegou a falar para eu abandonar a faculdade, dizendo que tinha me criado para que eu desse lucro para ele e não prejuízo. Eu me vi numa situação de total miséria e desânimo. Tentei recomeçar minha vida de todas as formas como vendedor de bolinhos de bacalhau no Largo da Matriz, vendedor de assinaturas de revistas, vendedor de sistemas de computador, de purificadores de água.
Todos esses empreendimentos falharam. Eu me sentia deprimido. Cheguei a ficar quase uma semana trancafiado em meu quarto totalmente desanimado. Minha vontade de superar aquela fase foi o que me fez continuar firme. Meu cunhado, na época o mais bem de vida da família, vendo a minha situação indicou-me para trabalhar no escritório de representação comercial de um amigo. O amigo dele precisava de alguém para cuidar do escritório até ele encerrar a empresa, pois uma funcionária havia traído sua confiança roubando vários clientes para montar o próprio negócio. Por causa disso ele teria que encerrar as atividades do escritório, mas tinha outra empresa e não tinha tempo de tomar conta dessa que ele teria que fechar. Foi assim que eu consegui uma espécie de emprego, mas não tinha idéia nenhuma de como aquilo funcionava e não tinha facilidade alguma com aquele tipo de vendas. Fiquei dois meses sem vender nada, mas aos poucos fui entendendo como tudo funcionava e passei a vender. Através daquele pequeno escritório eu consegui ir levantando dinheiro para pagar os débitos que eu tinha com a minha faculdade, e os vários outros débitos herdados da época em que eu estava envolvido com casas noturnas. Quase toda semana eu ia negociar cheques devolvidos daquela época e faturas pendentes em meu nome no cartório. Após seis meses o dono disse que iria encerrar a empresa e eu tinha só mais duas semanas para ficar lá. Ele disse que eu poderia continuar vendendo para os poucos clientes que ainda haviam, se eu desejasse. Mas teria que abrir minha própria empresa para fazer isso. Por sorte, um outro representante comercial ofereceu o escritório dele para mim, pois precisava de alguém para dividir despesas como aluguel, luz, etc.
Dessa forma, consegui iniciar meu próprio negócio, mesmo sem ter empresa aberta. Em pouco tempo, eu fui pagando as minhas dívidas e recuperando a minha reputação. Com o decorrer do tempo a concorrência foi ficando bastante acirrada, tornando muito difícil a realização de boas vendas. Como já tinha recuperado meu crédito, decidi então procurar um emprego de meio período para reforçar meu orçamento. Enviei alguns currículos e um deles foi selecionado por um escritório de recursos humanos. Fui chamado para concorrer a uma vaga. Fiz todo o processo de seleção sem saber direito que tipo de empresa era aquela. Acabei passando e entrando em uma companhia aérea ligada a Varig, a maior empresa aérea brasileira na época. Entrei nesta empresa e cheguei a ser promovido duas vezes. A empresa estava numa fase meteórica de expansão. Muito incentivado pelo meu chefe, tive também a oportunidade de viajar para a Inglaterra, pois os funcionários pagavam somente dez por cento do valor da passagem, como parte dos benefícios que a empresa oferecia. Nesta viagem pude aprimorar a língua inglesa.
Trabalhei lá por cinco anos. Após o falecimento repentino do meu chefe, que havia se tornado meu grande amigo (faleceu de ataque do coração), fiquei muito triste e perdi toda a motivação de continuar a trabalhar lá. Na mesma época um amigo de infância, que trabalhava como professor particular de inglês, incentivou-me a dar aulas de inglês. Ele indicou uma amiga dele para estudar comigo. Eu não tinha experiência nenhuma com aquilo, mas como havia encontrado um método muito interessante de ensino da língua inglesa quando estive na Inglaterra, decidi tentar utilizá-lo aqui. Quando dei aula pela primeira vez, saí da casa da aluna com a certeza que faria aquilo pelo resto da vida.
Adquiri uma paixão muito grande em lecionar e acabei me tornando um professor de inglês em pouco tempo. Aquela primeira aluna me indicou para várias outras amigas. Em pouco tempo eu estava com vários alunos particulares. Eu trabalhava no aeroporto à noite e durante o dia dava aulas de inglês em empresas e residências. Como já estava desmotivado em trabalhar na empresa devido ao falecimento do meu grande amigo, decidi sair de lá para dedicar- me somente às aulas de inglês. Deixei o atual gerente ciente da minha intenção de sair. Ele despediu-me na primeira oportunidade que teve, pois tinha muita inveja de mim e sempre buscava uma oportunidade para poder me demitir. Percebi que havia encontrado algo que realmente eu adorava fazer. Ensinar inglês utilizando o mesmo método que havia me ensinado a língua. Após expandir minha rede de alunos, coloquei um professor inglês para atender meus alunos no meu lugar e viajei novamente para a Inglaterra para estudar ainda mais o Método e conseguir um certificado de proficiência da língua inglesa que fosse reconhecido internacionalmente. Antes disso, enviei várias fitas cassete de aulas minhas para o criador do Método de ensino. Ele acabou enviando-me uma carta de recomendação por ter ficado admirado com os meus conhecimentos técnicos do Método, após ter escutado as fitas cassete, mesmo ciente do meu inglês com sotaque brasileiro. Convidou-me também para conhecê-lo pessoalmente. Quando o conheci, ganhei um curso de treinamento para professores gratuitamente e fui o primeiro não-inglês a realizá-lo.
Morei lá por quase seis meses e retornei para o Brasil. Meu amigo inglês foi para a China trabalhar em um projeto na área dele, e eu continuei a atender os meus alunos. Porém, muitos dos meus alunos já haviam dominado a língua com o meu amigo inglês. Aos poucos fui ficando praticamente sem alunos, o que me deixou numa situação financeira bem difícil. Minha irmã ofereceu a casa dela para me ajudar. e decidi dar aulas utilizando a sala de visitas dela. Aos poucos fui encontrando novos alunos e me estabelecendo lá. Minha irmã estava passando por sérios problemas financeiros e achei que poderia ajudá-la cuidando da casa para ela, dando aulas lá, pois haviam tentado invadir a casa dela anteriormente. Um dia chegou uma ordem de despejo na casa dela. Isso me pegou de surpresa, pois estava atendendo alguns alunos naquele endereço. Tive que procurar as pressas algum lugar para continuar a atender os meus alunos. Foi muito difícil, pois não tinha terreno, carro ou outros bens e a maioria dos proprietários de imóveis pediam garantias. Com muito custo consegui alugar uma pequena sala na Avenida Santo Amaro, pois o dono do imóvel depositou um voto de confiança na minha pessoa. Convenci então meus alunos a terem aulas comigo naquela sala.
Apesar da distância, todos decidiram continuar a estudar comigo. Era umasala pequena, super abafada e o banheiro vivia entupido. Por várias vezes, eu chegava mais cedo (ou saía tarde da noite) para desentupir o banheiro que estava com um cheiro horrível. Algum tempo depois, acabei conhecendo dois ingleses, e passamos quase um ano trabalhando juntos naquela sala, revezando-se uns com os outros. Ajudei um deles a alugar o próprio imóvel tornando-me fiador dele. Algum tempo depois, ele traiu minha confiança e abandonou a parceria que tinha comigo, para montar o próprio negócio, mesmo trabalhando em regime ilegal por ser estrangeiro sem visto para tal. O outro inglês chegou a tentar me estrangular quando o despedi e juntou-se ao outro. Um ano depois ambos faliram. Um foi despejado e acabou retornando para a Inglaterra deixando para trás a esposa com muitas divídas no Brasil. Como eu estava como fiador no contrato, fiquei meses negociando com o dono do imóvel uma dívida de aluguéis atrasados que ele deixou. O outro desapareceu e nunca mais tive notícias.
Com o passar do tempo, consegui mais e mais alunos, e em um ano aluguei um outro imóvel com três salas. A dona do imóvel, uma dentista, havia sido roubada e estava desesperada por dinheiro e acabou me alugando o imóvel por um valor bem abaixo do mercado. Tive que convencer meu pai a ser meu fiador, apesar dele ter ficado com muito receio em assinar o contrato. A escritura da casa dele era tudo o que ele tinha de mais valor, mas acabou assinando na última hora para me ajudar. Consegui então alugar um imóvel bem luxuoso e era inacreditável eu ter conseguido sair de uma sala super pequena para um imóvel daquele porte. Iniciei sozinho todo o trabalho, sempre trabalhando como autônomo. Depois contratei uma jovem de 16 anos (por meio de um programa de incentivo ao emprego do governo estadual) para auxiliar-me na recepção dos alunos. Consegui encontrar também um estrangeiro que na época estava passando por sérias dificuldades de moradia e de dinheiro. Ele sentia que por ser negro, as escolas de inglês não lhe davam oportunidade de trabalho. Ofereci-lhe a oportunidade de trabalhar comigo e ele aceitou, mesmo sabendo que eu não poderia pagar-lhe um bom salário. Ele tornou-se meu braço direito, chegando após alguns meses comigo a ganhar quatro vezes mais do que ganhava no começo. Foi assim que consegui montar minha escola de inglês. Cheguei a empregar outros quatro professores durante um tempo para atender a procura. Após um ano de trabalho, quando estava para renovar o contrato do local onde eu estava, aconteceu algo extraordinário. Uma senhora havia comprado o imóvel do lado (que era um imóvel caindo aos pedaços), reformou-o por inteiro para colocar seus filhos para trabalharem em uma loja de suplementos alimentares. Após a reforma, o imóvel ficou muito bonito, mas os negócios não iam bem. Após terem sido assaltados por duas vezes, desistiram do negócio e colocaram o imóvel para alugar. Tinha seis salas, 2 banheiros, 2 corredores, um quintal grande com jardim e uma casa de fundos com quarto, sala, cozinha e banheiro. Graças à boa amizade que havia estabelecido com os donos do imóvel, depois de muita insistência minha, consegui alugá-lo por um bom preço e ampliar minha escola. Quando peguei o contrato assinado das mãos da dona do imóvel chorei muito de felicidade, muito mais do que tinha chorado quando consegui mudar para o imóvel anterior. Reformei a casa dos fundos e passei a morar na escola durante a semana. Eu passava então a morar em um dos bairros mais caros de São Paulo. Consegui contratar mais uma recepcionista, mais dois professores e ampliei o número de alunos.
Todos os que trabalhavam comigo estavam satisfeitos, ganhando melhor do que antes e motivados com o andamento da escola e suas perspectivas para o futuro. Minha qualidade de vida melhorou muito. Criei condições de ter tempo livre para ir ao cinema quando desejasse (adoro cinema), para dormir até tarde quando eu assim desejasse, para me dedicar à atividades altruísticas, para fazer as coisas que eu mais gostava. Acompanhei os últimos momentos de vida da minha mãe visitando-a constantemente. E ela, após 8 anos sofrendo na cama devido a complicações geradas por várias doenças, sempre se sentia feliz em saber que eu continuava a batalhar e crescer na vida. O menino que ela tinha adotado de coração estava vencendo na vida! Eu poderia ganhar muito mais dinheiro, mas sempre preferi compartilhar meus ganhos dando emprego, perspectivas, esperanças e oportunidades de crescimento para mais pessoas. Depois de alguns anos e após alguns problemas com professores, decidi mudar a forma de trabalhar. Aguardei que os professores que não mais tinham perfil para trabalhar comigo saíssem por conta própria. Minha recepcionista que trabalhou comigo por sete anos, se tornou uma professora e com o tempo também saiu para ganhar mais em outra empresa. Acabei ficando sozinho na escola, trabalhando muito e contratei um inglês que era chef de cozinha na Inglaterra para trabalhar comigo.
Mudei a estrutura do negócio, e ao invés de ter secretária e/ou recepcionista, contratei um escritório virtual e passei a trazer professores de outros países, interessados em realizar intercâmbio cultural no Brasil. Para minha surpresa, a dona do imóvel onde eu alugava por quase 10 anos, pediu o imóvel, pois tinha vendido para uma incorporadora que iria construir um prédio comercial no lugar. Essa incorporadora já tinha comprado outros dois imóveis ao redor. Decidi então que não sairia dali para alugar outro imóvel.
Acontecesse o que tivesse que acontecer, eu teria que comprar meu próprio imóvel, e na mesma região. O problema era que a região era caríssima, impossível de achar um imóvel que se pudesse comprar por financiamento. Negociei muito com o representante da incorporadora, visitei vários e vários imóveis. Andava por toda a região perguntando sobre imóveis, consultando antigos moradores, comerciantes, imobiliárias e qualquer pessoa que pudesse saber de algo. Por sorte, um corretor encontrou um imóvel onde o dono tinha pressas para vender, pois precisava do dinheiro para comprar outro imóvel. Com a ajuda do dono da incorporadora, consegui um empréstimo na Caixa Econômica, estourei todos os meus limites bancários, vendi algumas coisas minhas de valor e usei todas minhas economias para dar entrada. Finalmente eu conseguia comprar meu imóvel próprio! Meu pai ficou muito feliz quando contei o que tinha conseguido e uma semana antes de ele ir visitar o novo prédio comigo, infelizmente veio a falecer. Ele, mesmo sem saber ler e escrever direito ensinou-me muitas coisas com sua humildade, caráter e sabedoria. Tudo o que conquistei foi baseado no amor que sempre tive dos meus pais e da minha família.
Com a crise política e econômica que assolou o país, uma empresa onde eu atendia muitos alunos suspendeu o curso de inglês dos funcionários. Isso me deixou numa situação financeira muito difícil. Pensei até que iria perder minha casa pois as dívidas se acumulavam. Foram seis anos vivendo endividado com muita dificuldade para conseguir continuar pagando as prestações do imóvel. Meu nome acabou indo para o SPC e Serasa por não ter aguentado os juros dos limites bancários e dos cartões de crédito. Resolvi então alugar o quarto dos fundos da minha casa pelo Airbnb para me ajudar nas despesas. Decidi também estudar a fundo sobre análises gráficas e aprender a fazer trading com criptomoedas e arrisquei um pequeno capital.
Graças a renda gerada com esses dois negócios consegui negociar as dívidas com os bancos, limpar meu nome e ficar com as finanças em dia. Depois disso, dei a sorte de receber um dinheiro de um consórcio de imóveis que paguei por um tempo e tive que desistir de continuar devido dificuldades financeiras na época. Arrisquei parte deste dinheiro em criptomoedas e em 2017 dobrei meu capital de R$ 30.000,00 para R$ 60.000,00. Infelizmente cometi um erro técnico de segurança e sofri um golpe onde perdi todo esse dinheiro. Fiquei muito abatido na época mas encarei como uma dura lição do mundo dos investimentos: nunca coloque todos ovos numa cesta só e nunca faça investimentos de risco com mais do que 5% do seu capital.
Mesmo com os revezes, hoje moro e trabalho no meu próprio imóvel. Meu objetivo é quitá-lo o quanto antes me me livrar das prestações habitacionais que faltam. Amo dar aulas de inglês e administrar meus negócios. Gosto do bairro onde moro e estou muito feliz com a minha vida. Me considero uma pessoa que está sempre disposta a ver as coisas de forma realista e pelo lado positivo. Acredito muito que a determinação, disciplina e força de vontade das pessoas podem levá-las a realizar seus objetivos de vida. Não há necessidade de procurarmos forças externas para superarmos nossos problemas. Toda força que precisamos se encontra em nossas resoluções e em nossa forma de pensar e encarar os desafios.
Quando desenvolvemos uma mentalidade vencedora, podemos potencializar ainda mais as nossas realizações. Estou constantemente desenvolvendo meus conhecimentos e os meus negócios para ajudar mais pessoas a vencerem na vida junto comigo. Continuo com grandes sonhos e projetos a concretizar.
Como um humanista que anseia por um mundo de paz, estou me esforçando ao máximo para atingir minhas metas pessoais e continuar vencendo os desafios da vida. Acredito que temos somente uma vida para ser desfrutada. Só nós sabemos o que podemos fazer com nossas próprias vidas. Problemas sempre surgirão. Por isso, temos que resolver o quanto antes os que já estão diante de nós (pois outros continuarão a aparecer).
Novas oportunidades também sempre surgem diante de nós. Por isso, viver é algo tão desafiador e interessante.
Cada um de nós pode fazer a diferença neste mundo de alguma forma.
Muito obrigado pela oportunidade de compartilhar um pouco da minha história de vida com você!
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